quinta-feira, 14 de agosto de 2008

areinvençãodovideoclipe

O Superman (EUA, 1981). Josh White para Laurie Anderson:

Nos primórdios do music video, White conseguiu transformar a simplicidade do primeiro formato de clipe num exercício rigoroso e quase minimalista de diálogo entre câmera e os gestos de Anderson. Sobre fundos vazios, cenários desnudos e nada mais que um foco de luz, a dama da performance, mais sóbria, fria e andrógina do que nunca, canta o ocaso dos grandes mitos ("O Superman, O Judge, O Mom and Dad!"). O momento forte ocorre quando ela coloca uma fonte de luz dentro da boca: na penumbra, o movimento de sua boca parece emitir faíscas e raios por entre os dentes. Fortemente influenciada pela linguagem do videoclipe, Laurie Anderson dirigeria, em 1985 o filme Home of Brave, uma audaciosa síntese de imagens cinemáticas, teatro de vanguarda e computação gráfica.



Comme to Daddy (Grã-Bretanha, 1997). Chris Cunningham para o Aphex Twin

Aphex Twin é o pseudônimo de Richard D. James, o inventor da música ambiente pós-punk, que depois aderiu ao techno, ou mais exatamente a uma música eletrocaústica em estilo jungle. Comme to Daddy é um exemplo de clipe integral, som e imagens pensados e trabalhados simultaneamente por músico e cineasta. O diretor Cunningham (que fez também o inventivo All Is Full of Love, 1999, com música de Björk) faz uma fusão exata de imagens eletrônicas (vídeo) e fotoquímicas (cinema), extraindo o melhor de cada categoria. A parábola do monstro que sai da tela da televisão é pretexto para um clipe verdadeiramente assustador, lembrando de longe alguns filmes de David Cronenberg. Os personagens - um daddy longilíneo e um bando de anões pervertidos - são todos sexualmente indefinidos. À medida que os sons se desintegram em ruídos dissonantes, as imagens também vão perdendo sua definição figurativa e se reduzem a manchas e riscos disformes.



Do livro "A Televisão Levada a Sério" de Arlindo Machado.

Neste capítulo entitulado "Reinvenção do Videoclipe" o autor aponta "Dez videoclipes arrazadores", que ajudaram a conceituar o que vemos hoje e definir uma linguagem própria para vídeos musicais, contribuindo para o que se pode chamar de 'qualidade em tv'.

Vale
a pena conferir os outros 8 vídeos, basta dar uma buscada, porém eu não consegui encontrar alguns deles que muito me chamaram a atenção por sus descrições e análises feitas pelo autor:


Drive (EUA), 1992). Peter Care para o R.E.M.
Mondo Video (Grã-Betanha, 1986).
Música e vídeo de Kevin Godley e Lol Creme.
People of the Sun (EUA, 1996). Peter Christopherson para o Rage Against the Machine.
C'est comme ça (França, 1987).
Jean-Baptiste Montino para Rita Mitsouko.
Fire on Babylon (Irlanda, 1994). Michel Gondry para Sinéad O'Connor.
O silêncio (Brasil, 1997). Tadeu Jungle para Arnaldo Antunes.
Kuroi Junin no Onna (Japão, 1998). Hiroshi Ito para o Pizzicato Five.
Ashes to Ashes (Grã-Betanha, 1980). David Mallet para David Bowie.

Sabe, tô vendo a televisão com outros olhos depois deste livro. Ele tenta encontrar (e creio que encontre, ainda tô no começo e pulando partes, hehe) uma linguagem televisiva cultural, e não apenas avacalha com o mais popular dos meios, como fazem a maioria dos autores nas literaturas 'especializadas'.


=D

2 comentários:

Tarciso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tarciso disse...

Oi, gente!
Assisti o segundo vídeo (o primeiro já tinha visto) e tipo, shorey, saca?
Dos mais absurdinhos!
Principalmente pra distorção, tanto de imagnes como pro som (que se não for é muito parecido) de Breathe do Prodigy.
"Come play my game.
Inhale, inhale, you're the victim."

Fiquei com mais medo das "bunecRas" do que do "monstro"

Ahazow galáxias no post, o melhor desde o início do chuveiro.
Parabéns!
Vou tentar catar o livro essa semana.